28 de out. de 2007

Harry Potter é de esquerda

O bruxo Harry Potter é de esquerda, apontou o filósofo e lingüista francês Jean-Claude Milner, que fez nesta sexta-feira uma leitura política inédita da saga de J.K. Rowling nas páginas do jornal Liberation. Milner sustenta que as aventuras do jovem mago são "profundamente políticas" e "dialogam com a Inglaterra de hoje". Este também seria, portanto, o segredo do sucesso da saga de Harry Potter — cujo último volume, à venda na França desde a meia-noite de ontem, teve tiragem no país de 2 milhões e 300 mil cópias. — (Ao ler Harry Potter), temos a sensação de que a escritora considera, como muitos ingleses cultos, que tenha acontecido de fato uma revolução thatcheriana (referente à ex-premier Margaret Thatcher, catastrófica, e que agora a única possibilidade para a cultura é sobreviver no mundo oculto) — afirma. Margaret Thatcher foi a primeira mulher a ocupar o cargo de premier britânico e governou a Inglaterra de 1979 a 1990. A premier proporcionou a subida dos conservadores ao poder e o alinhamento da política inglesa com a norte-americana (de Ronald Reagan). Thatcher também combateu a inflação às custas do desemprego, que triplicou em seu governo, promoveu a privatização de empresas, ganhou popularidade ao combater com rigor a Argentina na Guerra das Ilhas Malvinas, em 1982. Conhecida como a dama-de-ferro, governou enérgica e ideologicamente. O filósofo faz uma comparação entre a escola de magia Hogwarts, freqüentada por Harry, e algumas escolas públicas britânicas, como a Eton. A odiosa personagem de tia Marge é uma "alusão evidente" a Margaret Thatcher: "no filme, ela até veste o mesmo tipo de roupas", afirma Milner. Além disso, os tios de Harry são não-magos, "vivem como os personagens do mundo de Margaret Thatcher, em um quarteirão limpinho, onde todas as casas se parecem", e são, portanto, "expressão da classe-média thatcheriana e blairista (em referência ao ex-premier inglês Tony Blair)". Para Milder, a escritora é uma verdadeira libertária. — É como se ela dissesse: aprendam o grego ou o latim, em vez de marketing. Assim, poderão atuar no mundo de maneira inesperada. Os verdadeiros magos não são os spin-doctors, ou seja, os especialistas em comunicação, de Tony Blair, mas aqueles que conhecem o grego e o latim — diz o filósofo francês.